O termo terroir é comumente associado às características de solo, clima e cultura da região produtora. Porém, seu significado no mundo dos vinhos vai muito além disso.
Terroir é considerado um dos maiores influenciadores na qualidade das uvas e, consequentemente, na qualidade do vinho produzido. Surgido no Velho Mundo, o conceito de terroir não poderia ter tido um outro berço.
Isso devido à crença dos produtores dessa região geográfica, em especial, de que a personalidade da bebida não nasce pura e simplesmente da videira. Mas também a partir de características específicas de onde ela é cultivada, além das técnicas utilizadas em seu cultivo.
Segundo especialistas e enófilos o termo terroir está cercado de um contexto maior que engloba também a importância da ação humana. Essa intervenção contribuiria com os fatores naturais para a produção de vinhos únicos.
O terreno é, portanto, uma das variáveis do terroir assim como tantos outros, que entram em convergência para que determinada região se caracterize a partir das particularidades das uvas.
Há ainda muitas pessoas que enxergam o terroir como um mero misticismo, outras não entendem bem o significado e complexidade do termo, mas há uma grande corrente que defende que as características do terroir são indiscutivelmente importantes na concepção do sabor, aroma e aparencia do vinho produzido em determinado local.
O terroir é composto de alguns fatores (ou variáveis) de grande relevância na compreensão da influência no cultivo das uvas e qualidades do vinho. Reunimos abaixo quais são estes e um pouco sobre o papel de cada um no terroir, confira:
● Solo: Abrange questões como a densidade, presença de minerais e rochas específicas, fertilidade, retenção de calor e armazenamento de água da chuva, grandes responsáveis pela reação da videira.
● Clima: Vai além das noções básicas de clima frio, chuvoso, quente, com névoa ou ventania. O tipo de clima afeta características cruciais para os vinhos como a acidez e os açúcares das uvas.
● Terreno: Abrange itens geográficos como planaltos, inclinações, vales, altitude em relação ao mar, presença de rios ou encostas, dentre outros, que têm potencial para alterar níveis de umidade, amplitude térmica e toda a flora local.
● Cultura e tradição: Esse fator tem muito mais ciência envolvida do que se imagina. Afinal, as técnicas de cultivo próprias de determinada região, aspectos culturais que refletem também no cultivo e demais tradições passadas através de gerações são partes importantes do terroir.
Desde a forma de cuidar das videiras, até as etapas de maturação e o produto final, tudo isso envolve mãos humanas que foram ensinadas a partir de técnicas tradicionais.
Em observância ao que comentamos aqui sobre o conceito do terroir, seu impacto na qualidade da uva colhida é inegável. Cada uva assume diferentes características de acordo com o local de cultivo e os demais fatores condicionantes do terroir.
Algumas regiões possuem grande reconhecimento internacional em função da forma como as uvas se adaptam aos diferentes tipos de solo.
É importante considerar que para explorar o máximo de um terroir produzindo vinhos de qualidade superior é necessário considerar cuidadosamente como cada uva irá se comportar e que características serão assumidas em predominância.
Um grande exemplo vem do cultivo da Sauvignon Blanc, em que na região do Vale do Loire na França, produz vinhos com aromas mais herbáceos, e na região de Western Cape na África do Sul assume um caráter mais ácido e aromas frutados.
A região da Borgonha é célebre pela produção excelente de vinhos como o Chardonnay que assume qualidades totalmente diferentes de acordo com as microrregiões de cultivo da mesma uva.
Já na região de Côte d’Or, os famosos vinhos Pinot Noir são considerados encorpados e demoram um pouco mais para mostrar suas variações de aromas e sabores. Em contrapartida o terroir presente na produção em Côte Beaune, evidencia um vinho mais elegante e delicado, com a necessidade de menos tempo para evoluir.
O velho mundo, compreendido como os países produtores de vinhos da Europa que ao longo da história tornaram-se notáveis na vitivinicultura, recebe destaque em especial quando se fala de vinhos de Portugal, Espanha, França, Itália e Alemanha. A tradição é uma palavra muito importante nos vinhos do Velho Mundo, assim como o terroir de cada região e país.
A produção de vinhos nos países do Velho Mundo é conhecida pelas leis rígidas que visam, justamente, preservar a autenticidade da produção, preservar o terroir. Isso ocorre também por meio das práticas enológicas mais tradicionais empregadas pelos produtores desses locais.
O conhecimento que o vinicultor possui lhe foi repassado e seguirá influenciando o cultivo nas próximas gerações. Essa experiência e as técnicas aprendidas nos remetem a um dos fatores do terroir destacados aqui e impactam em vinhos, em geral, mais delicados e elegantes.
Grande parte possui acidez mais elevada, aromas minerais e taninos perceptíveis.
A vida da população e a história de cada região nos países do chamado Velho Mundo se misturam e resultam em vinhos únicos e incomparáveis, cujos sabores são apreciados mundialmente há anos.
Vamos agora falar sobre duas das regiões mais renomadas do Velho Mundo: Borgonha (França) e Dão (Portugal).
Região histórica no centro-leste da França, a Borgonha sempre foi conhecida pela grande produção de vinhos franceses e mitos que os rodeiam. Suas regiões vitivinícolas foram se configurando a partir do padrão de Bordeaux, cidade portuária às margens do rio Garonne, no sudoeste da França, também conhecida pela produção de vinhos.
A fama dos vinhos de Borgonha vem com a ideia da organização e dos padrões utilizados para classificar a produção. Em uma ordem do mais alto para o mais baixo nos fatores prestígio e qualidade, Borgonha tem como referência os vinhos: Grand Cru, Premier Cru, Village e o Borgonha, em referência aos melhores terroirs dentro da região.
Nessa classificação e ordenação, regiões com encostas de morros (altitudes elevadas) produzem os Grand Crus e Premier Crus. Mais próximos de estradas estão os Village e os Borgonha.
Considerada a Borgonha de Portugal, o Dão está localizado no centro norte, e é uma das mais antigas regiões do país na produção de vinhos. Lá são produzidos vinhos tintos e brancos de excelência há vários anos consagrando o local. Tornou-se Região Demarcada em 1908, a primeira região demarcada de vinhos não licorosos do país.
Sua geografia é composta de uma planície cercada de montanhas, com suaves ondulações nas encostas, presença de vários pinheiros que protegem os vinhedos. Além disso, recebe influência climática vinda do Atlântico, com invernos mais frios e chuvosos. Tudo isso, como já sabemos, contribui para o terroir e o sabor ímpar dos vinhos da região.
Os vinhos do Dão são mais complexos e precisam de mais tempo de garrafa antes de serem comercializados, se compararmos com vinhos de outras regiões do Velho Mundo. Berço da casta Touriga Nacional, a região do Dão produz abundantemente uma das uvas com maior qualidade de Portugal.
Além da Touriga, cultiva-se na região também as uvas Tinta Roriz, Jaen, Alfrocheiro Preto e Encruzado. A partir destas, no Dão são produzidos predominantemente vinhos tintos balanceados e de boa acidez, com aromas complexos, delicados e frutados, taninos finos e ótimo potencial de envelhecimento.
Apesar de minoria na produção, os vinhos brancos do Dão se apresentam com corpo médio e ótimo nível de acidez refrescante. Este é o caso dos vinhos produzidos com a uva Encruzado, que se assemelha muitíssimo às características dos grandes Chardonnays da Borgonha, como os Chablis.
O comparativo entre essas regiões é bastante antigo. São várias as características semelhantes: propriedades pequenas com produção limitada (conhecidas como “Chateaus” na Borgonha e “Quintas” no Dão), solos pobres, vinhas velhas e fatores climáticos. Ambas têm a capacidade de produzir grandes vinhos, reconhecidos pela elegância e estrutura marcante!
Um exemplo de influência de terroir na qualidade dos vinhos portugueses pode ser visto na região de Santar, localizada no Planalto Beirão, uma das mais belas e prestigiadas regiões vitivinícolas do Dão. O local é rodeado pelas Serras da Nave, Montemuro, Lapa, Buçaco, Açor e Lousã, Serra da Estrela e pela Serra do Caramulo.
A partir disso contempla um terroir digno do alto padrão dos vinhos produzidos. Seu clima também contribui a partir da influência atlântica e também continental, vinda do interior da Península Ibérica, constituindo invernos mais frios e chuvosos e verões quentes e secos.
A Quinta da Alameda Santar, um dos mais importantes produtores de vinhos desse local, iniciou sua produção nos anos 50 e desde então passou a ser conhecida como produtora de um linha premium de Vinhos do Dão. Seus rótulos reforçam a elegância dos nobres exemplares que na propriedade remodelada preservaram parte das vinhas velhas com as castas misturadas para produzir vinhos com excelência.
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